Eu estava lá, porque era eu.

Mais uma vez, me sentindo nada. Abandonada, quando precisava de ajuda. Eu disse pra você ir embora, mas você não entende? Eu queria que você ficasse e mostrasse que se importa comigo. Rejeitada, ignorada, minha amiga está estranha e jura não estar chateada comigo, mas ela está diferente.

Vivo levando patadas, de graça. Não estou conseguindo escrever, me expressar... nem dar sentido às coisas que estou escrevendo. Não sei se eu existo... Muito vazio, vazio que dói. Bloqueio. Dor por dentro, inexplicável. Preciso exteriorizar isso. Quero ficar sozinha, e estou. Mas não posso. Sei que vou me destruir. Não consigo pensar que vai passar. Vai passar, eu sei. Mas vai voltar. A TV está ligada pra tentar dar a impressão de companhia, mas sei que eu estou sozinha. Todos dormem, e ninguém faz ideia do que se passa nessa sala. Me sinto observada. Estou com medo. Está tudo diferente. Alguém me tira daqui. Quero remédios, quero terapia, pretendo ligar amanhã, mas chega na hora e não quero mais... Desisto de tudo. Estou cansada disso. Afasto as pessoas mas sei que dependo delas. Da companhia. E aquele idiota me deixou sozinha, não era isso que eu quis dizer. Quando eu pensava que você me apoiava... Fui burra, de ontem em diante, vou buscar ajuda sozinha. Não conto mais com ninguém e não vou te meter nessa enrolação toda. Já fez muito em me aturar. 

Por quê eu?

Cena do filme francês 'Borderline'.